quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tchau, meu amor...

"tchau, meu amor..."

Toda a intensidade dos momentos que antecediam a despedida sumiam na suavidade das palavras que deveriam encerrar a conversa. Soava como largar as mãos, distanciar a visão, mas reacendia o desejo de permanecer. Na tentativa de romper, o beijo parecia a forma mais garantida, como se colasse mais e aí soltasse de vez.  Tenta uma, tenta duas, na terceira vez a aceitação, acabou.
Mas o coração palpitava, a cabeça devaneava, o tempo não passava. 
Tinha um cara que falava sobre não desistir do seu desejo, quem iria ceder primeiro. Claro, ele, e mais uma vez o som mecânico dizia, acorda e vem pra vida que vai começar tudo de novo.
Quem tem coragem de dizer que ama, com a plenitude que essa expressão tem dento da boca, sabe que amar leva ao sofrer, mas que vale a pena sempre. Não há nada melhor pra fazer na vida a não ser amar, e dizer sempre: "tchau, meu amor.."

domingo, 5 de abril de 2015

A VOZ


Estava fadada àquele destino. Se escondia atrás de véus, de trapos, tudo em vão.
O som da voz denunciava sua essência, a alma que a habitava.
Nunca soube direito se escolhia as imagens que vestia para esconder ou revelar (rebelar) melhor a face verdadeira do seu desejo. Sofria quando era tomada por essa face, mas era inevitável, pois não tinha controle sobre a musicalidade, o timbre, a singularidade daquilo que saía da sua boca. O que entra se controla, o que sai, não se sabe.
Os anos passaram, ela começou a brincar mais com o que tinha em volta, só então se deu conta que a revelação morava justamente onde ela não tinha acesso e nem controle. Aceitou, mas será que poderia se apropriar disso? Talvez se conformar com ocorrência imprecisa e curtir a brincadeira que isso trazia seria a melhor forma de tomar para si o que era verdadeiramente seu. 
Mas se não sabia de onde vinha, apesar de sair pela boca, e também não tinha controle, será que pertencia a ela mesmo? Se era no olhar do outro, no desejo despertado no outro, não pelo que este via, mas pelo que ouvia e se manifestava nele, era dela mesmo ou do outro?
 Mélange essa era a palavra mais precisa para dizer disso. Com significado de mistura e sonoridade de melado, a palavra desvelava aquilo que ela talvez provocasse quando falava. Uma mistura entre desejo de um e desejo de outro, provocando demandas indizíveis em busca de prazeres nem sempre possíveis.