sexta-feira, 10 de abril de 2009

Comunicação Eficiente

Então, "O" post de hoje é sobre a Campanha Aquecimento Global 2009 - HORA DO PLANETA - que aconteceu no dia 28 de março.

Diante das ocorrências - comercial de tv, entrevistas de rádio, reportagens na tv, comentários de pessoas comuns na rua - pensei em fazer observações sobre Comunicação e Semiótica (com pitadas de Psicanálise), refletindo sobre a eficiência da campanha publicitária do evento citado.

O primeiro filme: http://www.youtube.com/watch?v=rNG8gpHAtpc
O segundo filme: http://www.youtube.com/watch?v=r5KfsyS1ogk&NR=1

A Publicidade conta com textos sintéticos e estratégicos para atingir a maior mensagem na menor duração de tempo - 30 segundos. Para isso, além da escolha precisa das palavras, utiliza elementos preciosos com significados específicos que complementam o que não está nas palavras. Além do cenário, figurino, objetos, atores certos, as expressões de emoções também contribuem para a eficiência da mensagem. E, para completar todo esse conjunto, música e elementos sonoros (ou silêncio completo).

Vimos nos comerciais acima, a opção pelo FOGO como signo de unificação da Campanha, além de celebridades brasileiras, tanto da área artística, como esportiva, para dar maior credibilidade.

O Fogo, esse elemento instigador e destruidor, assustador pela sua magnitude e fundamental para o desenvolvimento da Humanidade.
Curioso que agora esteja colocado como "vilão" de um processo de devastação do planeta.
Afinal, quanto o homem usou desse elemento mágico e se excedeu diante desse fascínio? Será que a responsabilidade por atos e excessos são percebidas apesar do narcisismo constitutivo de cada um de nós?

Apesar do primeiro comercial já mostrar "O" signo de assinatura da Campanha, um globo do planeta Terra com uma vela acesa no seu centro , não fica clara a relação dos dois comerciais como dois momentos da mesma campanha. Isso devido ao clima mais fúnebre e ameaçador do primeiro, e com a "solução" nessa ação coletiva, uma certa tranquilização no segundo. Mesmo com cenários sem elementos, iluminação fraca, atores conhecidos (voz ou corpo), ainda assim as construções narrativas dos dois filmes não nos levam a associá-los como dois momentos de uma mesma comunicação.

A vela no centro do globo planetário - uma coisa fálica declaradamente, nesses tempos de declínio da figura paterna, nada mais conveniente do que retomar a forma fálica como "único" elemento para um futuro dAs trevas.

Temos acima alguns poucos referentes necessários para o que vem a seguir, e é importante parar agora para que o excesso não torne tudo isso muito massante.

Em entrevistas no Rádio, uma das pessoas responsáveis pela organização da ação, se dizia esperançosa pelo sucesso da Campanha antes do evento. E, muito feliz pelo números de cidades e pessoas que tinham aderido à Campanha, que ela dizia, realmente ter sido um sucesso, alguns dias depois.

Mas como realmente a gente sabe da eficiência de alguma campanha? É o público que diz se aquilo "deu certo ou não".
Não com pesquisas que direcionam a resposta através da intenção da pergunta, mas de comentários ocasionais, sem muita reflexão sobre o tema.

Felizmente pude comprovar a efeciência de todo esse envolvimento de pessoas, dinheiro, discursos, numa conversa muito interessante de senhoras na praia.

Disse uma delas: "e aí, você apagou a luz ontem à noite?"
E a outra respondeu: "apagar a luz? não, por quê?"
A primeira: "era pra apagar, eles mandaram, pra economizar..."
E a segunda: "que horas era pra apagar?"
Novamente a primeira: "as oito e meia da noite.."
E a segunda: "ah, esse horário eu tava na casa da fulana.. então não tava em casa.. então tava apagada.. então eu apaguei!" riu e completou: "mas se tem que apagar pra economizar, Eles tem que apagar tudo, apaga e pronto..."
A primeira complementa: "eles falam pra economizar, pq estamos gastando muito..."
Daí, a conversa se dissolve e elas começam a falar de outro assunto.. talvez uma festa junina que já estão planejando...

Curioso é que o tema Aquecimento Global está muito longe dos pensamentos delas...

Nosso entendimento imediato passa pelo nosso repertório pessoal, nosso histórico.

Ora, nós brasileiros vivemos há alguns anos um problema grave de falta de energia elétrica, aquele apagão e aquela crise de energia onde as pessoas evitavam carregar seus celulares em casa para não pagar multa por gastar energia em excesso.

E, afinal, uma vela serve para iluminar quando falta luz em casa.

Fiquei pensando em como aquele elemento, tão poderoso, firme, fogoso, pôde causar uma distorção considerável na intenção inicial de toda uma campanha.

Se fizermos diversas associações chegamos na tal falta de energia, mas não era disso que se tratava, e as pessoas comuns, que vivem suas vidas sem grandes mobilizações com o "planeta", nem chegam a pensar do que se trata todo esse discurso de salvar o planeta. O importante é como chegar no final do mês, do ano, da vida, com energia suficiente para continuar enxergando o próximo passo.

Para pensar:
O século XX foi marcado por diversos mitos, em especial a ciência como reveladora da "verdade".
Nesse começo do século XXI, certamente os grandes mitos que nos movimentam são o 'salvamento do planeta' e o 'bem-estar'.

Vivemos uma retificação das ações passadas. Certamente um sintoma é a sensação de que causamos algo e estamos "sofrendo com isso". Nos envolvemos com causas coleitvas sem muita reflexão, somente para nos encaixarmos em um grupo definido, com um propósito claro e nobre.

Sugiro pensarmos numa coisa humana - A CULPA - que talvez nesse assunto (aquecimento / fogo) seja pelo excesso dos antigos (Pais ?), e que deve ser incessantemente reparada pelos atuais (Filhos ?), em repetição ao eterno cenário familiar do sujeito humano e seu desejo.

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