sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A ÁRVORE

Antes de virar filme, o projeto do curta "A Árvore", do Jeff Chies, significou muito mais. Arrisco dizer que para ele, foi um mergulho em temas que já eram instigantes, e para mim, parece a passagem de uma relação de colegas de trabalho a amigos de fato. Carrega consigo aquilo que uma árvore é e ainda mais. 
Papos e mais papos, mudanças de vida, mas as 'raízes' permaneciam.E eis que num belo dia me deparo com o filme pronto, realizado, exibido. E me tocou, como o projeto já havia tocado, algo que existe, mas que não tem pressa de ser interpretado.
É nas brechas do tempo que as lembranças trazem as marcas daquilo que deve ser simbolizado. O sincrônico indica que é do lado de fora que aparece o que foi forjado dentro. Um dia no museu Reina Sofia, um vídeo-arte de Jackson Mac Low, com o mesmo nome, igualzinho. Depois, há poucos dias, um vídeo-clipe, de Ane Brun , chamado 'Words', e aí o silêncio não poderia mais ser o signo desse filme, do projeto.




Sobre 'A Árvore', acho bonito, gosto da música, pregna enquanto significante. Saussure usou 'a árvore' como referência primeira da exemplificação da relação indissociável entre significado e significante na formação da menor unidade linguística. O signo, sem o qual não nos comunicamos, pede que aquilo que estaria só do lado da imagem acesse um significado. De que fala o escritor e diretor Jeff Chies quando realiza um desejo de longa data, inspirado por uma cena urbana, leituras, signos diversos vindos de fontes distintas, se condensando num articulado filme, que pede que se decifre o que está por trás da imagem? Que texto está ali, escrito, reescrito, perdido, achado, escondido, exposto? O que tem do Jeff naquelas páginas? Quem é a musa que inspira e a dama que traduz? As cenas são quentes, porque tem um calor pulsional, forte, motivando a verborragia corporal. O excesso escondido se mostra nos detalhes, porque as cenas são limpas, organizadas, esteticamente estruturadas. O encantamento das imagens produz um registro, fazendo com que aquilo que se viu não se esqueça. Me parece que ele é um homem de imagens. O que elas significam fica a cargo de quem quiser interpretá-las a partir de cada singularidade. Mais um semioticista aqui me auxilia, Peirce diz que todo signo carrega um interpretante, que destaca a condição de interpretabilidade. O filme está aí para ser visto e interpretado, disponível para os sentidos e para a imaginação. O filme constrói um signo, se faz signo a partir dos signos presentes e ausentes. 
Escrevo, e penso que eu continuo escondendo o que poderia ser exposto dos enigmas e segredos daquilo que se passa no mais íntimo de cada um de nós, dos nossos desejos, medos, através dessas imagens.  Não viso desvendar, mas instigar.
Escreve-se para tentar tirar de dentro de si o mais singular, mas as palavras não conseguem abarcar a libido que as movimenta. É a libido que circula, que transita entre o que se vê, o que se ouve, o que se sente, o que se lê. Sorte daqueles que conseguem tocar um pedaço disso, num espaço único, privado, apto a ser suporte daquilo que não é do Outro, mas sim do Ser.

Assista o filme, me diga o que ele te provoca, ou só se deixe provocar por ele.

E, você já sabe, se quiser saber mais sobre o que foi citado acima, o Google ajuda.

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