domingo, 11 de julho de 2010

Ninguém me ouve, ninguém me quer...

Por que será que as pessoas não se sentem ouvidas, quando na realidade elas não se sentem sentem vistas?

Hoje tudo vira depoimento, tudo é registrado em câmera. O que não se registra se perde na mesma rapidez com que se produziu.

Idéias se multiplicam, vidas desinteressantes viram dramas "importantes", durante 48 horas.

A ex-amante do jogador deixa o depoimento dos maltratos na internet. Tenta ser ouvida pelo seu drama, mas a trama é tão imoral que a poucos importa.

A esposa traída de Sorocaba vira matéria de revista depois de expor o caso do marido com a amiga, também na internet, e claro, com "direito" à violência contra a mulher, afinal, quem cede ao desejo é "sempre" a mulher. A ânsia de fazer justiça leva a "vítima" ao lugar de "culpada".

Quem deseja sente culpa, projeta no outro essa culpa julgando-o, mas ganha um bônus: foi visto.

As pessoas falam, mas falam para quem, por quê e acima de tudo, de quê?

De que sofrem esses narcísicos sem olhares? Qual a necessidade do drama encenado para olhares desconhecidos, mas ainda assim, olhares.

Sábado à noite, num ciclo de cinema e psicanálise na Cinemateca (divulgado aqui anteriormente), assisti ao maravilhoso "Sunset Boulevard" (Crepúsculo dos Deuses) e dentre outros pontos interpretativos temos a questão narcísica do olhar e não ver, de precisar ser visto seja lá por quem, desse olhar vazio, mas que sustenta a impressão de ter algum tipo de atenção... logo, existir.

O que é então a internet senão um arquivo gigante e infinito, onde tudo que existe está lá? Se, no mundo real não há espaço para eu existir, para o drama ser encenado, no mundo virtual há espaço de sobra, sem limites, sem análise, sem censura.

(Enquanto escrevo isso penso nesse blog e em tantos outros... sem imagem que confirme as palavras parece não existir o dito.)

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