Por que será que as pessoas não se sentem ouvidas, quando na realidade elas não se sentem sentem vistas?
Hoje tudo vira depoimento, tudo é registrado em câmera. O que não se registra se perde na mesma rapidez com que se produziu.
Idéias se multiplicam, vidas desinteressantes viram dramas "importantes", durante 48 horas.
A ex-amante do jogador deixa o depoimento dos maltratos na internet. Tenta ser ouvida pelo seu drama, mas a trama é tão imoral que a poucos importa.
A esposa traída de Sorocaba vira matéria de revista depois de expor o caso do marido com a amiga, também na internet, e claro, com "direito" à violência contra a mulher, afinal, quem cede ao desejo é "sempre" a mulher. A ânsia de fazer justiça leva a "vítima" ao lugar de "culpada".
Quem deseja sente culpa, projeta no outro essa culpa julgando-o, mas ganha um bônus: foi visto.
As pessoas falam, mas falam para quem, por quê e acima de tudo, de quê?
De que sofrem esses narcísicos sem olhares? Qual a necessidade do drama encenado para olhares desconhecidos, mas ainda assim, olhares.
Sábado à noite, num ciclo de cinema e psicanálise na Cinemateca (divulgado aqui anteriormente), assisti ao maravilhoso "Sunset Boulevard" (Crepúsculo dos Deuses) e dentre outros pontos interpretativos temos a questão narcísica do olhar e não ver, de precisar ser visto seja lá por quem, desse olhar vazio, mas que sustenta a impressão de ter algum tipo de atenção... logo, existir.
O que é então a internet senão um arquivo gigante e infinito, onde tudo que existe está lá? Se, no mundo real não há espaço para eu existir, para o drama ser encenado, no mundo virtual há espaço de sobra, sem limites, sem análise, sem censura.
(Enquanto escrevo isso penso nesse blog e em tantos outros... sem imagem que confirme as palavras parece não existir o dito.)
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