sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Quatro cinco um

Em julho deste ano, escrevi um texto que foi publicado na sessão de cartas dos leitores da revista de livros Quatro Cinco Um - Folha SP / UOL, por conta do isolamento durante a pandemia da covid-19.

Minha casa é o meu país.

Talvez essa frase já tenha sido dita por aí, por alguém. Mas hoje ela saiu da minha boca de forma muito espontânea e ainda foi concluída por uma quase gargalhada.

Perguntada sobre como iam as coisas durante a pandemia, pensei brevemente e calculei, num segundo, que tudo se passa aqui, em casa. Tudo que faço é aqui dentro.
Já me dei conta que cada cômodo acomoda  duas ou três atividades diferentes, oferecendo cantos distintos para momentos específicos. Multipliquei espaços.

Meu escritório, que também é sala de tv, agora mais tem atribuições: dou e assisto aulas, faço grupos de estudos e acompanho e faço as lives relacionadas com esses temas. Além disso, é setting analítico, meu e do meu analista. E, por fim, ainda dá espaço para sala de meditação e curso de mindfulness. Esse lugar rende. Tem espaço bom, iluminação, sol na medida certa.

O quarto, esse parece que se manteve como de costume, acolhendo meu corpo para as atividades comumente exercidas lá. Não entrarei em detalhes, cada um sabe para o que um quarto serve. E o banheiro, idem.

A sala ficou mais aberta, coloquei os móveis nas paredes dos cantos, virou academia! Yoga, pilates, combat.

Meu marido faz caminhada, anda vigorosamente pela casa toda durante meia hora, diz que faz suar. Ele também ocupa a mesa de jantar, ali é o seu escritório. Quando faz aulas, permanece no mesmo lugar. Mas quando vai dar aula, reveza comigo o escritório. Tem funcionado. 

Na cozinha comemos e preparamos as refeições. Ela é bem ativa num sujar e limpar infinito. Aproveitei e fiz coisas pela primeira vez: pão de fermentação lenta, essências de laranja e cravo para pães e banhos fitoterápicos e energéticos, e outras receitas de nacionalidades diferentes. Eu e uma amiga trocamos receitas e comidas toda semana, tem sido muito divertido a manutenção de um espaço criativo nesse sentido.

A área de serviço permanece com roupas sendo lavadas e passadas e as plantas parecem abaladas pela falta da melhor amiga delas, que limpava a minha casa uma vez por semana e que quarentena também. 

No quartinho dos fundos, um cavalete de pintura dele, um espelho para tirar sobrancelha e cortar cabelo, nosso. Atividades básicas de manutenção da vida.

Amigos via skype, whatsapp, facebook e instagram. Tá tudo aqui, dentro do celular.

E, como disse eu hoje cedo: minha casa é o meu país.

Simone de Paula

https://quatrocincoum.folha.uol.com.br/br/noticias/viagem-a-roda-de-meu-quarto/depoimentos-sobre-a-quarentena-julho 

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